Pequeno Histórico da Companhia

          Em 1980, Betti Grebler e Leda Muhana, duas alunas no último ano da Escola de Dança da Universidade Federal da Bahia, reuniram um grupo de colegas, entre aqueles que habitavam os corredores no intervalo das aulas fazendo imitações, cantando e encenando, e foram para a sala de ensaio. No final do semestre surgiu o primeiro espetáculo « Exatamente, mais ou menos » que foi apresentado na Sala do Coro do Teatro Castro Alves. Nos dois anos seguintes o grupo produziu mais dois espetáculos « Quase com certeza » e « Muito pelo contrário » que formaram uma trilogia representativa do trabalho de sua primeira fase. Estava fundada a Companhia que tornou-se conhecida como Grupo Tran-Chan.

          A palavra Tran-Chan é uma expressão idiomática que quer dizer direto ao ponto, e traduz um dos princípios fundamentais desta companhia: buscar uma expressão de movimento que derive de um modo próprio de ser e estar no mundo. O grupo fez da simplicidade deste princípio o ponto de partida para o desenvolvimento de seu estilo inconfundível, instalando-se como uma experiência de criação artística comunitária, onde o prazer da descoberta criativa foi sempre um bem a ser preservado.

          Consagrado como um dos mais significativos grupos de dança contemporânea brasileira o Tran-Chan nunca cedeu à estética tradional e é reconhecido por seu estilo irreverente, ágil e preciso, traços que manteve de sua origem recreativa.

          O legado da Companhia se configura como um modo de pensar e fazer a dança sem um modelo fixo e que portanto emerge da experimentação orientada pelo interesse do grupo sobre um ou mais temas. No que se refere à elaboração coreográfica, o envolvimento do elenco é parte fundamental de um processo que busca seu material na imaginação e na experiência de cada um de seus participantes. O resultado é um processo que tem seu centro no corpo do intérprete, e elabora seu produto nas respostas que ele consegue fornecer a partir dos estímulos gerados pelos exercícios de improvisação e pelos temas.

          Portanto o trabalho da Companhia requer um tempo que não é comercial porque busca construir algo que não está dado, busca a delicadeza do trabalho artesanal através de um instrumental experimental que se desenvolve como um processo gradual sob a forma de questionamnetos, tarefas e diálogo entre a arte do movimento e outras linguagens artísticas.

          A literatura como geradora de imagens, de signifcados e de sensações tem sido uma aliada em suas últimas montagens, permitindo uma abordagem coreográfica à margem das normas tradicionais da composição e do pensamento linear. Mesclando poesia com pesquisa científica, a Companhia busca o interesse e o envolvimento do espectador em sua obra. Foi assim que compôs Coisas Mudas (1997), com o poeta Manoel de Barros e O que o olho diz ao cérebro (2000), com o cientista Robert Solso.

          A continuidade do trabalho da Companhia tem sido igualmente um exercício de criatividade, mas, apesar das dificuldades, a Companhia de Dança Contemporânea Tran-Chan é uma das poucas em nosso estado que se manteve trabalhando ininterruptamente, de 1980 até a presente data. Durante os 27 de trabalho a Companhia produziu 17 espetáculos coreográficos apresentados em temporadas nos teatros e nos festivais da dança mais importantes de nosso país, além de ter seu trabalho divulgado em rede nacional de televisão através do canal Bravo Brasil por assinatura e participar de eventos, residências e festivais internacionais no Chile, na Colômbia, nos Estados Unidos e na Alemanha.

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